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MÊS DA MULHER: “Ser mulher é estar posta à prova o tempo todo”, diz servidora



Publicado em: 06 de Março de 2023
Texto: Everaldo Galdino/ Ascom
Foto: Arquivo pessoal

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, a Prefeitura de Jaciara faz homenagens às cidadãs jaciarenses e realiza uma série de entrevistas que ocorrerá na Semana da Mulher.  Hoje, a entrevista é com a "jaciarense de coração" Nágila de Moura Brandão, mãe, servidora pública, mestre e doutora em Educação e neta  de um dos fundadores de Jaciara, Germano Moura. Ela contou um pouco sobre sua história, a carreira e suas conquistas, entre elas, projetos desenvolvidos à área de apoio à infância e juventude em unidades educacionais e comunidades.   

O que é ser mulher para você?

Nágila - Nossa que pergunta difícil!  Ser mulher para mim é estar posta à prova o tempo todo.

Pra você, a mulher conquistou espaço?

Nágila - Conquistamos. Conquistamos e continuaremos a conquistar.

Você concorda que a mulher pode ser o que quiser e pode estar em qualquer lugar?

Nágila - Com toda certeza. Nós somos imagem e semelhança de Deus. Nossa potencialidade é infinita, nossa inteligência, nossa capacidade criativa. Homens e mulheres, juntos, precisam entender que a delimitação de espaços de poder não deve ficar restrita a um ou outro. Há demandas sociais que atingem diretamente às mulheres e com certeza recebem um olhar mais atento de nós. As vivências que temos e aplicamos em nossas profissões conferem um diferencial positivo.

Por que escolheu o serviço público para trabalhar?

Nágila- Creio que, para grande número de brasileiros, o serviço público sempre pareceu uma forma de obtenção de seguridade no campo do trabalho. Por ser pai e mãe servidores (policial militar e professora, respectivamente), ter a certeza de construir uma carreira e galgar degraus dentro de uma instituição enquanto ajudava pessoas tornou-se uma busca para mim, ainda na adolescência.

Há quanto tempo você atua na área pública?

Nágila- Ser policial militar foi meu primeiro emprego, aos 19 anos entrei na instituição. Lá se vão 18 anos de profissão.

Quais as funções que você já teve oportunidade de exercer?

Nágila -  Nesse tempo já tive muitas oportunidades interessantes. Já trabalhei no chamado “policiamento ordinário”, que é este que a comunidade tem mais contato, as viaturas de rádio patrulha do nosso cotidiano. Já comandei unidade operacional. Já comandei unidade de policiamento especializado. E, agora estou tendo a oportunidade de ser diretora de uma Escola Estadual Militar. Dentro de cada uma dessas funções trabalhei com pessoas diversas, locais lindos desse Mato Grosso. Algumas pessoas, inclusive, a gente reencontra anos depois. Trabalhar com gente é isso, é viver todo dia uma história diferente, marcar a vida das pessoas e também ser marcado por elas.

Fale sobre sua profissão, formação e experiências. Teve  incentivos para atuar no serviço público?

Nágila- Hoje sou tenente-coronel da Polícia Militar de Mato Grosso. Tenho mestrado e doutorado em Educação.  Ser policial militar é muito difícil. Quando a gente se forma, fazemos um juramento de colocar em risco a nossa vida para salvaguardar a vida dos outros. É uma forma de entrega distinta, já que em várias profissões, como na saúde, por exemplo, os profissionais correm riscos... Mas aqui a coisa é explícita. Desde a formação nos é exigido esse trabalho psicológico, um preparo para que nos piores momentos você corra em direção ao risco, corra em direção para o lugar de onde vem o barulho e a confusão. Acredito que esse diferencial atue de uma maneira profunda na vida de todos os que estão aqui. Transforma a nossa forma até de andar na rua, de olhar os outros quando estamos andando, a maneira como nos portamos em momentos de lazer com nossa família. Por outro lado, é extremamente gratificante quando você termina um atendimento e você recebe um sorrisão daqueles beeeeem grandes, com a pessoa cheia de gratidão por você ter aparecido no momento de desespero dela e a atendido com cuidado, com respeito. Eu tenho pessoas que atendi há 15 anos em Rondonópolis no meu whatsapp... pessoas que me encontram vez ou outra e me apresentam para alguém da família que está ao lado e falam coisa boas... é gratificante. Além disso, os lugares que já tive o prazer de conhecer, as aventuras que já vivi... isso tudo foi graças a minha profissão.

O que mais gosta de fazer quando não está trabalhando?  Pode exemplificar?

Nágila - O meu trabalho já me traz emoções demais (risos), por isso, na minha folga eu tento sempre que possível praticar meu yoga, limpar minha casa, cuidar dos meus bichos, gosto de cozinhar para a minha família e para os meus amigos. Gosto de correr, de cuidar das minhas plantas e da minha horta. Tudo que me traga tranquilidade e que me ajuda a me centrar.

Se não fosse servidor público, o que seria?

Nágila -  Não consigo nem pensar... eu acredito que eu nasci para estar no meio de gente. Eu certamente estaria envolvida diretamente com ativismo social na área da Educação, do Meio Ambiente... Mesmo que eu trabalhasse em uma empresa privada, creio que meu lugar na empresa seria dentro da parte social.

Como avalia o  tempo de trabalho?

Nágila -  Desafiador. Novamente, lidar com pessoas é maravilhoso, mas ao mesmo tempo é desafiador. É todo dia uma batalha interna entre as nossas próprias crenças e necessidades e você tentar compreender as ações, as necessidades do outro. É um jogo diário de avançar e ceder. Ainda mais agora, com 530 alunos.

Conciliar trabalho, estudos, família, e outras atividades, é possível?  Como?

Nágila -  Eu acho que estou conseguindo (risos). Quando a gente conhece as prioridades fica mais fácil. A gente consegue dizer os “nãos”, delimitar horários, não levar tanto assunto de trabalho para casa. Eu tenho filhos, marido, casa, amigos, afilhados, cachorros e gatos... eu preciso deles todos para ficar bem, da mesma forma que sou necessária na vida deles. Estudar para mim é uma necessidade. Toda vez que eu termino um curso eu prometo que será o último, mas nunca é. Eu hoje já me assumi como uma nerd, e sou feliz com isso... (risos). Eu passei no vestibular em primeiro lugar, fiz mestrado aos 24 anos e doutorado aos 28... Acredito que estudar seja uma parte muito importante da minha personalidade, de quem eu sou. Não é fácil, mas para mim, é algo necessário. Acredito que se a mulher possua um companheiro de verdade, e ele exerça as funções dele dentro do casamento, tudo é possível. Com apoio, o céu é o limite para uma mulher que está determinada a fazer algo.

Sobre o cargo que exerce, o que mais gosta de fazer em relação as atividades de trabalho?

Nágila  - Agora, como diretora de escola tenho tentado acompanhar tudo muito de perto. Aprender com os professores, andar lado a lado com os alunos. Eu vejo a felicidade neles quando estou presente nas atividades cotidianas, afinal, na escola militar há uma busca por alunos com vocação... quando chego ou outro policial militar eles ficam malucos. É uma energia completamente diferente. Eu gosto de praticamente tudo.

Cite um livro de cabeceira que mais gosta.

Nágila -  Olha lá a dificuldade... um livro só? (risos). Eu li os livros de nerd clássicos com a minha filha mais velha... As crônicas de Nárnia, lemos os livros do Harry Potter... eu amo literatura de ficção como forma de descanso... Agora, falando em livro que arrebatou a minha cabeça quando eu mesma era adolescente eu cito sem sombra de dúvidas Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis... e, como estamos no mês da mulher, vale a dica: eu tenho lido e relido um livro de uma psicóloga norte-americana chamada Clarissa Pinkola Estés, “Mulheres que correm com lobos”. Vamos dizer que este fica na minha cabeceira.

Tem alguma personalidade  no serviço público estadual e  municipal,  como referência, que pode citar? Se for sim, quem?  Por quê?

Nágila - Todas as mulheres. Hoje temos no Mato Grosso a presidente do Poder Judiciário que é uma mulher... desembargadora Clarice Claudino... Temos prefeitas, como a Andréia Wagner em Jaciara, temos delegadas, reitoras, como a Professora Vera Maquês... todas elas levam isso tudo que falamos até agora: a capacidade de lutar pelas pessoas, ao lado das pessoas... a sensibilidade, a força, a coragem... elas são referência para mim... todas as profissionais que atuam comigo hoje, eu vejo a luta delas, justamente nesse sentido que falamos anteriormente de conciliar profissão, estudo, família. Essas são minhas inspirações diárias.

Gosta de opinar nos assuntos de política, economia, esporte, educação e outros?

Nágila - Eu sou uma apaixonada por Educação. Se a pessoa “caçar conversa” comigo nesse campo, eu passo horas falando... (risos).

Teve algum projeto ou já realizou alguma ação para melhorar o serviço público estadual  ou municipal, especificamente no exercício do cargo na  instituição?

Nágila - Eu sempre tento me valer das ferramentas que eu aprendo para melhorar o serviço que eu presto à comunidade... projetos já criei e desenvolvi vários, principalmente na área de apoio à infância e juventude dentro das unidades onde já atuei.

De que forma contribuiu?

Nágila- Dois projetos todos o que vou exemplificar agora é o Agente Ambiental Mirim, que desenvolvi com outros policiais, companheiros de serviço, quando era comandante do policiamento ambiental do Sul do Estado. Ali naquele projeto eu consegui unir duas causas que amo: meio ambiente e infância. Definitivamente, não vou me esquecer jamais do que vivi ali. Já se passaram 10 anos e eu ainda tenho contato com alguns deles... Agora, já são adultos.

Qual a mensagem que queira deixar à Prefeitura de Jaciara?

Nágila - Jaciara é um lugar abençoado. Eu sou muito grata por ter sido criada e educada ai. Tive a sorte de ter os melhores professores nas escolas públicas onde estudei. Se eu sou uma pessoa hoje bem empregada, com um lar para minha família, foi em virtude das bases que essa cidade me proporcionou. Ter espaços públicos gratuitos e de qualidade, lazer, esporte, saúde... Eu me lembro até “das tias do postinho” indo na minha escola ensinar a gente a escovar os dentes. O que eu quero deixar de mensagem para a prefeitura de Jaciara é: continuem fazendo pelas crianças de Jaciara o que fizeram por mim lá atrás. Se hoje eu tenho profissão, formação acadêmica... é tudo consequência do que me foi ofertado ai. Continuem olhando as crianças!

O que diz às pessoas que pretendem seguir carreiras no serviço público estadual?

Nágila -  Não é fácil, mas se você percebe que você gosta de gente, que gosta de atuar pela população: estude! A sua hora vai chegar!!!

 


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